Tendo estreado no Brasil há pouco mais de uma semana, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge(Batman: The Dark Knight Rises ou TDKR para os íntimos) atingiu rapidamente o ciclo criado pelas redes sociais para grandes blockbusters: expectativa (hype) -> estréia -> opiniões divergentes e extremas sobre a qualidade (ou falta dela) -> discussões sem fim até aparecer outro blockbuster.
Até aí tudo bem, natural e esperado. O problema é que no caso de TDKR muitos críticos parecem não ter prestado atenção no filme, ou se esqueceram como interpretar algumas falas e cenas, provavelmente por culpa de filmes ao estilo que o Michael Bay (trilogia Transformers) sabe fazer: explosões intercaladas por um fiapo de história que até mesmo uma pessoa com morte cerebral poderia entender.
Pensando nessa geração, que infelizmente perdeu boa parte das capacidades cognitivas, e por isso foi incapaz de entender muita coisa apresentada em TDKR, resolvi montar esse pequeno apanho de perguntas e respostas sobre o filme e seus “erros” apontados pelos mais críticos.
ATENÇÃO – SIM, TEM SPOILERS PRA DEDÉU – LEIA POR CONTA E RISCO
COMO JOHN BLAKE DESCOBRIU TÃO FACILMENTE A IDENTIDADE DO BATMAN?
Desde o começo o policial John Blake é mostrado como alguém com uma capacidade de dedução acima do normal, capaz de perceber detalhes e juntar fatos que normalmente passariam desapercebidas por outras pessoas. Essa capacidade se mostra não apenas quando ele vai até a mansão Wayne e conta como deduziu tudo, mas também em praticamente todo o filme.
Esse tipo de “habilidade” pode parecer extremamente forçada, mas, vejam vocês, o terceiro Robin dos quadrinhos descobriu a identidade do Batman aos NOVE ANOS de idade. Como? Observando fitas de vídeo e percebendo que um movimento acrobático do Robin lembrava um movimento muito parecido que ele viu no circo, durante uma apresentação dos Grayson Voadores. A partir daí, foi só juntar dois e dois.
Ainda parece forçado? Cabe lembrar, no segundo filme Nolan já brinca com essa “facilidade” que é descobrir a identidade secreta do Batman, com um funcionário da Wayne Enterprises que tenta chantagear Lucius Fox. Na verdade, Nolan tenta imprimir justamente isso nos filmes: por mais que Bruce Wayne tenta esconder sua vida dupla, alguém que preste muita atenção em alguns fatos poderia facilmente chegar à identidade secreta do Cavaleiro das Trevas.
Obviamente, muitos podem dizer que um personagem com o poder de dedução de John Blake não existe. Mas até aí, estamos ao mesmo tempo dizendo que personagens como Gregory House, Patrick Jane, Adrian Monk, Gilbert Grisson e vários outros personagens consagrados da ficção não poderiam existir.
Até aí tudo bem, natural e esperado. O problema é que no caso de TDKR muitos críticos parecem não ter prestado atenção no filme, ou se esqueceram como interpretar algumas falas e cenas, provavelmente por culpa de filmes ao estilo que o Michael Bay (trilogia Transformers) sabe fazer: explosões intercaladas por um fiapo de história que até mesmo uma pessoa com morte cerebral poderia entender.
Pensando nessa geração, que infelizmente perdeu boa parte das capacidades cognitivas, e por isso foi incapaz de entender muita coisa apresentada em TDKR, resolvi montar esse pequeno apanho de perguntas e respostas sobre o filme e seus “erros” apontados pelos mais críticos.
ATENÇÃO – SIM, TEM SPOILERS PRA DEDÉU – LEIA POR CONTA E RISCO
COMO JOHN BLAKE DESCOBRIU TÃO FACILMENTE A IDENTIDADE DO BATMAN?
Desde o começo o policial John Blake é mostrado como alguém com uma capacidade de dedução acima do normal, capaz de perceber detalhes e juntar fatos que normalmente passariam desapercebidas por outras pessoas. Essa capacidade se mostra não apenas quando ele vai até a mansão Wayne e conta como deduziu tudo, mas também em praticamente todo o filme.
Esse tipo de “habilidade” pode parecer extremamente forçada, mas, vejam vocês, o terceiro Robin dos quadrinhos descobriu a identidade do Batman aos NOVE ANOS de idade. Como? Observando fitas de vídeo e percebendo que um movimento acrobático do Robin lembrava um movimento muito parecido que ele viu no circo, durante uma apresentação dos Grayson Voadores. A partir daí, foi só juntar dois e dois.
Ainda parece forçado? Cabe lembrar, no segundo filme Nolan já brinca com essa “facilidade” que é descobrir a identidade secreta do Batman, com um funcionário da Wayne Enterprises que tenta chantagear Lucius Fox. Na verdade, Nolan tenta imprimir justamente isso nos filmes: por mais que Bruce Wayne tenta esconder sua vida dupla, alguém que preste muita atenção em alguns fatos poderia facilmente chegar à identidade secreta do Cavaleiro das Trevas.
Obviamente, muitos podem dizer que um personagem com o poder de dedução de John Blake não existe. Mas até aí, estamos ao mesmo tempo dizendo que personagens como Gregory House, Patrick Jane, Adrian Monk, Gilbert Grisson e vários outros personagens consagrados da ficção não poderiam existir.
Personagens com poder de dedução fora do comum são
ruins e não cabem em uma história reais… wait!
COMO O BATMAN PÔDE CONFIAR TÃO RAPIDAMENTE NA MULHER-GATO?
AHÁ!!! O Batman em nenhum momento confiou cegamente na Mulher-Gato!
Provavelmente a atuação de Anne Hathaway numa roupa de couro deve ter deixado muita gente sem conseguir prestar atenção na história, mas vamos relembrar os dois momentos em que Batman pede ajuda à Mulher-Gato:
- Na primeira vez, ele já fez boa parte da lição de casa, e sabe que o que Selina Kyle mais deseja é o programa Ficha Limpa, um software capaz de acessar todas as redes de computadores e apagar dados sobre uma pessoa, como se ela deixasse de existir. Sendo assim, ele faz um acordo com ela: ela o leva até Bane, e ele dá a ela o Ficha Limpa. Aqui, Batman é traído, mas Selina ainda diz: “Fiz isso porque era a única forma deles pararem de tentar me matar”.
- Na segunda vez, Batman entrega a Bat-moto para Selina Kyle, e diz algo como “Preciso que você exploda uma barricada pra mim, para que eu possa colocar a bomba de volta no reator. Essa barricada também é a única forma de você sair de Gotham, mas SE você puder voltar, eu ficaria agradecido”. Ou seja, em nenhum momento Batman confia de facto na Mulher-Gato. Ele sabia que ela ia explodir a barricada, mas não por confiança: era a única rota de fuga para ela. A partir daí, o que ela fizesse já não era mais da alçada do Batman, e ele mesmo não esperava que ela voltasse. Se isso acontecesse, ótimo. Caso contrário, o plano continuaria.
É preciso entender muito a relação entre Bruce Wayne e Selina Kyle: o primeiro está disposto a sacrificar tudo, incluindo a própria vida, pelos outros. Selina só pensa nela, a todo momento, e não se importa com mais ninguém. O que acontece durante o desenvolvimento do filme é um equilibrio entre esses dois desejos e formas de ver o mundo. Bruce passa a pensar um pouco mais na felicidade dele. Selina passa a pensar um pouco mais nos outros. Bruce já analisou o histórico da Mulher-Gato e sabe que ela não é necessariamente má. Por isso o entendimento de que, quando ela entrega o Batman para o Bane, ela estava apenas tentando sobreviver, como sempre fez.
E o Batman, ao contrário de vocês, sabe que o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Pessoalmente, duvido que vocês também iam ficar com raiva dela
COMO A POPULAÇÃO DE GOTHAM ACEITOU TÃO RAPIDAMENTE AS PALAVRAS DE BANE SOBRE HARVEY DENT?
Outro erro de interpretação. Em nenhum momento é mostrado que toda a população de Gotham City aceitou feliz e contente a verdade sobre Harvey Dent.
Os únicos que aceitaram isso foram os prisioneiros da prisão BlackGate, e isso porque qualquer coisa que fosse dita e que pudesse levá-los pra fora da prisão seria aceita. Afinal, eles estavam presos graças à Lei Dent. E quanto ao resto da população? Bom, vamos recapitular:
- Bane explodiu um estádio de futebol americano em rede nacional;
- Explodiu também todas as pontes e potenciais saídas da cidade;
- Matou o prefeito;
- Colocou uma bomba nuclear na frente de toda a população e matou a única pessoa que poderia desarmá-la;
- Disse que o detonador da bomba estava nas mãos de um cidadão qualquer de Gotham.
Vejam bem, eu não sou um especialista em psicologia, mas eu imagino que se alguém que fez tudo isso chegasse e dissesse que a Terra é chata, ninguém que estivesse no raio de ação da bomba discordaria. Bane tinha o poder, criou uma anarquia com a ajuda dos detentos da BlackGate, e você ou aceitava ou era morto. Simples assim.
COMO CONSERTARAM TÃO RÁPIDO A COLUNA DO BRUCE WAYNE? SOCOS NAS COSTAS É UMA FORMA VÁLIDA DE MEDICINA?
Num mundo em que transplantes e cirurgias com precisão de milimetros são tão comuns, um processo como o mostrado no filme (socar a hérnia até ela ficar no lugar) pode parecer forçado. Mas… como fazíamos antes dos hospitais, gessos, analgésicos e outras facilidades, quando alguém quebrava um osso ou colocava algo fora do lugar?
Forçando o osso de volta no lugar e imobilizando o local até que o corpo fizesse a parte dele. Muitas vezes, deixando algumas sequelas. Simples. Simples e muito, mas muito doloroso.
Cabe lembrar, um procedimento muito parecido aconteceu em Lost, na primeira temporada. Jack viu que a perna de Boone estava quebrada e precisa recolocar no lugar. Sem analgésico, sem mesa de cirurgia, sem equipamentos. O que ele faz? Força o osso de volta. (é possível ver essa cena rapidamente nesse vídeo).
O método Nolan, séculos antes de TDKR
COMO BRUCE WAYNE CONSEGUIU VOLTAR PARA GOTHAM?
Essa pergunta faria ALGUM sentido se no mapa-múndi houvessem apenas duas cidades: Gotham e cidadezinha ali perto da prisão. Como não é o caso, podemos usar um pouquinho da nossa massa cinzenta e supor que: Bruce Wayne conhece pessoas que conhecem pessoas que poderiam colocá-lo ali dentro da cidade (lembrando que não há somente pontes ligando Gotham ao resto do continente, mas também túneis (opa, não é um túnel que a Selina Kyle explode?), e seria razoavelmente simples para alguém todo trabalhado nas artes ninjas da Liga das Sombras entrar sem ser notado.
Na verdade, existem várias possibilidades diferentes, mas essa é, ao meu ver, a mais simples. Não custa lembrar, entrar e sair de ambientes sem ser notado é algo que Batman fez nos dois primeiros filmes. Como diabos Batman entrou na delegacia para interrogar o Coringa no segundo filme? A lógica aqui é a mesma: ele foi treinado para isso.
COMO BRUCE WAYNE SOBREVIVEU À EXPLOSÃO?
Se você tivesse prestado atenção no final do filme ao invés de ficar imaginando como poderia falar mal dele, perceberia que o Bat-Wing teve o controle remoto consertado pelo Batman. Controle. Remoto. Simples. Sério.
COMO BRUCE WAYNE ABANDONOU TÃO FACILMENTE O MANTO DO BATMAN?
Aí é algo que só entendendo (ou melhor, supondo) a intenção no Nolan podemos ter a resposta: em toda a trilogia, Nolan tenta esfregar na nossa cara que em um universo mais “real”, fora dos quadrinhos, a idéia de um “Batman” não daria muito certo. Ossos quebrados, pouca ou nenhuma ajuda da polícia, fãs se passando por você e sendo mortos pelos bandidos, bandidos cada vez mais armados e psicóticos vendo você como um alvo.
O terceiro filme trata exatamente disso: Bruce Wayne criou a persona Batman tentando resolver um trauma do passado, mas no final das contas isso estava consumindo a sua vida e a sua saúde. A cena do Wayne no hospital é emblemática: pouco mais de dois anos agindo como Batman e o corpo dele já ficou em cacos, praticamente destruído. Oito anos depois, a idéia de continuar como um vigilante não era mais viável, mesmo ele voltando a treinar corpo e mente na prisão.
Além do mais, a ligação dele com a Liga das Sombras e o óbvio fato de que muita gente era capaz de ligar os pontos e juntar Batman e Bruce Wayne na mesma pessoa era perigoso, tanto para ele, quanto para as pessoas que ele amava, quanto para a cidade. Assim, Bruce Wayne faz o sacrifício final: abre mão de ambas identidades e renasce, dessa vez feliz e em paz consigo mesmo.
À Gotham, resta o legado de Bruce Wayne, milionário excêntrico que mesmo após a morte fez o possível para ajudar a cidade, e de Batman, que ao contrário de Harvey Dent, era o verdadeiro herói que a cidade precisava. Com Wayne deixando seus equipamentos para John Blake, seria possível continuar patrulhando e protegendo a cidade, mas dessa vez sem colocar (espero!) pessoas amadas em perigo.
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Obviamente, ainda há muitas outras perguntas e outros “erros” que as pessoas podem apontar no filme. Mas, no final, TDKR é um bom filme, e fecha com chave de ouro a trilogia do herói criado pelo Nolan. E, como em todos os filmes do Nolan, você precisa pensar, supor, imaginar. As respostas não são entregues na sua mão e o roteiro não é raso como um pires, com tudo explicado nos mínimos detalhes, como se a platéia fosse burra. E, sinceramente, o que menos precisamos é de filmes que tratem a platéia como burra.
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Esse texto foi publicado originalmente aqui.
Para ler outros textos acesse graveheart.me
ruins e não cabem em uma história reais… wait!
COMO O BATMAN PÔDE CONFIAR TÃO RAPIDAMENTE NA MULHER-GATO?
AHÁ!!! O Batman em nenhum momento confiou cegamente na Mulher-Gato!
Provavelmente a atuação de Anne Hathaway numa roupa de couro deve ter deixado muita gente sem conseguir prestar atenção na história, mas vamos relembrar os dois momentos em que Batman pede ajuda à Mulher-Gato:
- Na primeira vez, ele já fez boa parte da lição de casa, e sabe que o que Selina Kyle mais deseja é o programa Ficha Limpa, um software capaz de acessar todas as redes de computadores e apagar dados sobre uma pessoa, como se ela deixasse de existir. Sendo assim, ele faz um acordo com ela: ela o leva até Bane, e ele dá a ela o Ficha Limpa. Aqui, Batman é traído, mas Selina ainda diz: “Fiz isso porque era a única forma deles pararem de tentar me matar”.
- Na segunda vez, Batman entrega a Bat-moto para Selina Kyle, e diz algo como “Preciso que você exploda uma barricada pra mim, para que eu possa colocar a bomba de volta no reator. Essa barricada também é a única forma de você sair de Gotham, mas SE você puder voltar, eu ficaria agradecido”. Ou seja, em nenhum momento Batman confia de facto na Mulher-Gato. Ele sabia que ela ia explodir a barricada, mas não por confiança: era a única rota de fuga para ela. A partir daí, o que ela fizesse já não era mais da alçada do Batman, e ele mesmo não esperava que ela voltasse. Se isso acontecesse, ótimo. Caso contrário, o plano continuaria.
É preciso entender muito a relação entre Bruce Wayne e Selina Kyle: o primeiro está disposto a sacrificar tudo, incluindo a própria vida, pelos outros. Selina só pensa nela, a todo momento, e não se importa com mais ninguém. O que acontece durante o desenvolvimento do filme é um equilibrio entre esses dois desejos e formas de ver o mundo. Bruce passa a pensar um pouco mais na felicidade dele. Selina passa a pensar um pouco mais nos outros. Bruce já analisou o histórico da Mulher-Gato e sabe que ela não é necessariamente má. Por isso o entendimento de que, quando ela entrega o Batman para o Bane, ela estava apenas tentando sobreviver, como sempre fez.
E o Batman, ao contrário de vocês, sabe que o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Pessoalmente, duvido que vocês também iam ficar com raiva dela
COMO A POPULAÇÃO DE GOTHAM ACEITOU TÃO RAPIDAMENTE AS PALAVRAS DE BANE SOBRE HARVEY DENT?
Outro erro de interpretação. Em nenhum momento é mostrado que toda a população de Gotham City aceitou feliz e contente a verdade sobre Harvey Dent.
Os únicos que aceitaram isso foram os prisioneiros da prisão BlackGate, e isso porque qualquer coisa que fosse dita e que pudesse levá-los pra fora da prisão seria aceita. Afinal, eles estavam presos graças à Lei Dent. E quanto ao resto da população? Bom, vamos recapitular:
- Bane explodiu um estádio de futebol americano em rede nacional;
- Explodiu também todas as pontes e potenciais saídas da cidade;
- Matou o prefeito;
- Colocou uma bomba nuclear na frente de toda a população e matou a única pessoa que poderia desarmá-la;
- Disse que o detonador da bomba estava nas mãos de um cidadão qualquer de Gotham.
Vejam bem, eu não sou um especialista em psicologia, mas eu imagino que se alguém que fez tudo isso chegasse e dissesse que a Terra é chata, ninguém que estivesse no raio de ação da bomba discordaria. Bane tinha o poder, criou uma anarquia com a ajuda dos detentos da BlackGate, e você ou aceitava ou era morto. Simples assim.
COMO CONSERTARAM TÃO RÁPIDO A COLUNA DO BRUCE WAYNE? SOCOS NAS COSTAS É UMA FORMA VÁLIDA DE MEDICINA?
Num mundo em que transplantes e cirurgias com precisão de milimetros são tão comuns, um processo como o mostrado no filme (socar a hérnia até ela ficar no lugar) pode parecer forçado. Mas… como fazíamos antes dos hospitais, gessos, analgésicos e outras facilidades, quando alguém quebrava um osso ou colocava algo fora do lugar?
Forçando o osso de volta no lugar e imobilizando o local até que o corpo fizesse a parte dele. Muitas vezes, deixando algumas sequelas. Simples. Simples e muito, mas muito doloroso.
Cabe lembrar, um procedimento muito parecido aconteceu em Lost, na primeira temporada. Jack viu que a perna de Boone estava quebrada e precisa recolocar no lugar. Sem analgésico, sem mesa de cirurgia, sem equipamentos. O que ele faz? Força o osso de volta. (é possível ver essa cena rapidamente nesse vídeo).
O método Nolan, séculos antes de TDKR
COMO BRUCE WAYNE CONSEGUIU VOLTAR PARA GOTHAM?
Essa pergunta faria ALGUM sentido se no mapa-múndi houvessem apenas duas cidades: Gotham e cidadezinha ali perto da prisão. Como não é o caso, podemos usar um pouquinho da nossa massa cinzenta e supor que: Bruce Wayne conhece pessoas que conhecem pessoas que poderiam colocá-lo ali dentro da cidade (lembrando que não há somente pontes ligando Gotham ao resto do continente, mas também túneis (opa, não é um túnel que a Selina Kyle explode?), e seria razoavelmente simples para alguém todo trabalhado nas artes ninjas da Liga das Sombras entrar sem ser notado.
Na verdade, existem várias possibilidades diferentes, mas essa é, ao meu ver, a mais simples. Não custa lembrar, entrar e sair de ambientes sem ser notado é algo que Batman fez nos dois primeiros filmes. Como diabos Batman entrou na delegacia para interrogar o Coringa no segundo filme? A lógica aqui é a mesma: ele foi treinado para isso.
COMO BRUCE WAYNE SOBREVIVEU À EXPLOSÃO?
Se você tivesse prestado atenção no final do filme ao invés de ficar imaginando como poderia falar mal dele, perceberia que o Bat-Wing teve o controle remoto consertado pelo Batman. Controle. Remoto. Simples. Sério.
COMO BRUCE WAYNE ABANDONOU TÃO FACILMENTE O MANTO DO BATMAN?
Aí é algo que só entendendo (ou melhor, supondo) a intenção no Nolan podemos ter a resposta: em toda a trilogia, Nolan tenta esfregar na nossa cara que em um universo mais “real”, fora dos quadrinhos, a idéia de um “Batman” não daria muito certo. Ossos quebrados, pouca ou nenhuma ajuda da polícia, fãs se passando por você e sendo mortos pelos bandidos, bandidos cada vez mais armados e psicóticos vendo você como um alvo.
O terceiro filme trata exatamente disso: Bruce Wayne criou a persona Batman tentando resolver um trauma do passado, mas no final das contas isso estava consumindo a sua vida e a sua saúde. A cena do Wayne no hospital é emblemática: pouco mais de dois anos agindo como Batman e o corpo dele já ficou em cacos, praticamente destruído. Oito anos depois, a idéia de continuar como um vigilante não era mais viável, mesmo ele voltando a treinar corpo e mente na prisão.
Além do mais, a ligação dele com a Liga das Sombras e o óbvio fato de que muita gente era capaz de ligar os pontos e juntar Batman e Bruce Wayne na mesma pessoa era perigoso, tanto para ele, quanto para as pessoas que ele amava, quanto para a cidade. Assim, Bruce Wayne faz o sacrifício final: abre mão de ambas identidades e renasce, dessa vez feliz e em paz consigo mesmo.
À Gotham, resta o legado de Bruce Wayne, milionário excêntrico que mesmo após a morte fez o possível para ajudar a cidade, e de Batman, que ao contrário de Harvey Dent, era o verdadeiro herói que a cidade precisava. Com Wayne deixando seus equipamentos para John Blake, seria possível continuar patrulhando e protegendo a cidade, mas dessa vez sem colocar (espero!) pessoas amadas em perigo.
==
Obviamente, ainda há muitas outras perguntas e outros “erros” que as pessoas podem apontar no filme. Mas, no final, TDKR é um bom filme, e fecha com chave de ouro a trilogia do herói criado pelo Nolan. E, como em todos os filmes do Nolan, você precisa pensar, supor, imaginar. As respostas não são entregues na sua mão e o roteiro não é raso como um pires, com tudo explicado nos mínimos detalhes, como se a platéia fosse burra. E, sinceramente, o que menos precisamos é de filmes que tratem a platéia como burra.
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